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quinta-feira, 28 de março de 2013

NA BORDA DA NOSTALGIA PARA FAZÊ-LA FUTURO



Uma das coisas mais impressionantes que um homem voltado para a poesia e a magia do futebol pode sentir é a nostalgia. Sentimento que chega a ser sinestésico. A visão do expectador incólume, sentado no duro e frio mármore das almas solitárias em meio à multidão do concreto bruto das arquibancadas do Willie Davids, sempre foi o palco perfeito para o desejo de entrar no Deloream, a máquina do tempo do Dr Emmett Brown, fictício personagem do filme: “DE VOLTA PARA O FUTURO”.


Cartola, o genial sambista da Mangueira cantava: “E os sonhos do passado, no passado estão presentes, e o amor que não envelhece jamais”. A saudade do narrador que vos fala é de sentido popular, o sentimento que circundava o Willie Davids nas quartas à noite, ou aos domingos à tarde, onde homens e mulheres empunhando caixas de isopor com latas de cerveja, refrigerantes, com sacos de amendoins, com churrasqueiras vendendo espetinhos, cachorro quente, varais estampando bandeiras, camisas, flâmulas, inchavam a entrada principal do estádio exalando o cheiro da cultura popular. Da cultura do homem do interior paranaense de mãos calejadas da lavoura, ansioso para apreciar um momento mágico de entretenimento futebolístico.
A magia voava sobre o gramado com o cheiro da carne assando. Da salsicha cozinhando em molho de tomate. Da magia do troco errado. Do xingamento. Do “deixa disso”. Do “E Dale Galo!” Do anacronismo presente nas coronárias dos mais emotivos. Dos torcedores que ainda mesmo com a desesperança dos tempos atuais, ainda não deixaram a bandeira alvinegra pender no campo de batalha. Na tarja severa dos que torcem contra. Do olho que só vê a derrota e o deboche. Aos que não querem que o “Galo do norte” retorne onipotente como nas épocas de glória, e que por contexto histórico, essa glória sempre foi acompanhada de dificuldades financeiras, mas que sempre eram superadas pela paixão, pelo imenso amor por essas cores preto e branca que molduram esses corações maringaenses.
Este texto é uma homenagem ao torcedor João P. A. Mello, detentor de um precioso material histórico do Grêmio de Maringá, que gentilmente me confiou para fazer fotos e disponibilizar nesta página guerreira. João foi membro da extinta TOG, (TORCIDA ORGANIZADA DO GRÊMIO) que provavelmente foi a primeira torcida organizada de Maringá, e também da GALO TERROR. João também perdeu o encanto pelo futebol local, (palavras do próprio João) mas fico pensando que ainda existe nele, como em muitos em Maringá, uma fagulha ainda acessa, pequenina, pronta para incendiar caso o Galo volte a ser uma equipe competitiva. Mas me pergunto qual o motivo dele tão prontamente me disponibilizar o material? Me confiar tão sagrado tesouro senão por ainda cultivar em seu coração uma semente de esperança de também entrar no Deloream do Dr Emmitt Brown e voltar para o Futuro carregando junto ao corpo, como uma enorme bandeira, as maravilhosas façanhas daquele esquadrão que assombrava o Paraná como um fantasma recôndito das lavouras de café?
João, fisicamente, remete-nos ao sambista Cartola. João é Orientador de Estacionamento Rotativo nas ruas de Maringá. O “Estar”. Quem um dia estacionar o carro na área de trabalho de João, preste bem atenção em seu pulso esquerdo. Ele carrega um suvenir dos tempos de glória do Grêmio. Um relógio de pulso que, em seu interior, estampa o distintivo do Galo. Suvenir no braço de quem diz que não vai mais ao estádio, mas que no pulso, ainda não deixou morrer o amor pela equipe que viu, ouviu e vibrou. E mesmo com sua negativa acanhada, acredito, o ama, como todos nós. E Dale Galo, João!